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COP30, que será na Amazônia, em 2025, exigirá mais ambição e forte posicionamento da agricultura brasileira

Reunião, na Fiesp, com especialistas sobre mudanças climáticas destacou que o agrobusiness nacional tem muito a mostrar e que a situação geopolítica mundial é mais hostil atualmente

Solange Sólon Borges, Agência Indusnet Fiesp

A proximidade da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP 30, que ocorrerá em novembro do próximo ano, em Belém (PA), motivou reunião conjunta na Fiesp na segunda-feira (3/6). O tema, pela sua importância e transversalidade, reuniu os Conselhos Superiores do Agronegócio (Cosag), Comércio Exterior (Coscex) e Desenvolvimento Sustentável (Condes).

O presidente do Coscex, Jackson Schneider, abriu a reunião reforçando a importância do tema para a indústria e, em especial, para o agronegócio. Um ponto de atenção é a revisão das NDCs – Contribuições Nacionais Determinadas. Trata-se de um documento dos governos registrando os principais compromissos e contribuições em prol do Acordo de Paris, de 2015. Esse acordo inclui mitigação, adaptação e financiamento.

Schneider observou que, passados dez anos, neste período de revisão do acordo os compromissos internacionais não podem ter um ‘protecionismo disfarçado’. “O agrobusiness brasileiro é moderno e conta com combustíveis limpos, como o etanol, o biodiesel, o SAF da aviação e temos muito a mostrar sobre este tema”, disse ele.

Em sua exposição, o economista, ex-governador do Espírito Santo e atual presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), Paulo Hartung, fez uma avaliação da história das COPs. Para ele, elas resultaram na conscientização das lideranças mundiais e, por isso, foram positivas, além de mobilizarem segmentos da opinião pública global.

Se por um lado as COPs evoluíram em seus compromissos, por outro, os mesmos não foram colocados em prática diante dos desafios multilaterais que se apresentaram, avaliou Hartung. Para ele, deve-se observar os movimentos unilaterais, como os dos Estados Unidos, que têm levado empresas brasileiras para o hemisfério Norte diante de facilidades ofertadas, a sinalização europeia, que estruturou sua plataforma regulatória, e a China, que investe pesadamente em energia.

Ele pontuou que o Brasil tem os recursos – florestas, biodiversidade, oferta de água doce, matriz energética limpa – mas não o dinheiro. A relevância de trazer a COP para a Amazônia, segundo Hartung, é que o mundo poderá discutir a Amazônia, mas conhecendo-a.

10 anos do Acordo de Paris

Em sua intervenção, a ex-ministra de Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que é copresidente do International Resource Panel (ONU), lembrou que o Acordo de Paris é o único regime vinculante sobre o clima até o momento. Dez anos depois de sua assinatura, o cenário geopolítico atual é completamente diverso e expõe a fragilização do sistema multilateral. “Precisamos perceber essa mudança”, afirmou, ressaltando que isso afeta todas as discussões sobre protecionismo, comércio exterior, barreiras não tarifárias. E as mudanças climáticas são um tema da agenda geopolítica e geoeconômica em um mundo que enfrenta hoje duas guerras.

Por isso, a COP 30 irá expor a Amazônia brasileira e a agricultura nacional terá papel estruturante, segundo a ex-ministra. “O mundo lida com o negacionismo climático e muitos negam a importância da agricultura brasileira. Mas é preciso agir de maneira mais ambiciosa”, diz ela.

Para o sucesso do Brasil na COP, os produtores rurais brasileiros precisam ter métrica, explicar como se fixa o carbono no solo e como os inventários retratam isso. É preciso lutar contra as metodologias que são enviesadas, aconselhou Isabella.

“A agricultura brasileira precisa ter uma meta estruturada para estabelecer uma discussão de alto nível na COP, pois envolve segurança energética, alimentar e climática”, disse. Ela também trouxe outros pontos para o debate: a importância da logística e dos transportes, no contexto da mudança climática, e o incremento dos movimentos migratórios, com impactos sociais e maior demanda alimentar, portanto.

Isabella Teixeira reforçou o papel do Brasil como provedor de soluções frente a outros países e necessidade de se apresentar assim no âmbito das discussões. Mas o país precisa se preparar com as regulações necessárias, inclusive no âmbito fiscal, e com um Congresso Nacional com capacidade de análise isenta, no campo legislativo, a fim de criar salvaguardas.

“Temos de construir soluções de desenvolvimento”, aconselhou a ex-ministra, destacando que não haverá recursos naturais disponíveis a partir de 2050 como existem hoje.

“Por isso, não dá para fazer apenas falando de desmatamento zero”, afirmou Isabella.“É preciso fazer uso do potencial que temos e entender as plataformas dos outros países, de adaptação e mitigação, e as parcerias internacionais que serão feitas e são interessante para o Brasil”, disse.

Por sua vez, o Plano Clima deve ser traduzido em plataformas do país para mitigação e adaptação, com metas setoriais e visões de metas nacionais. “Não há lado A ou lado B. O jogo lá fora é duro e o exportador vive isso”, disse.

Ela destacou a necessidade de se promover uma discussão estratégica olhando os mercados regional, nacional, e o internacional, além de como serão feitos os financiamentos, conectar esses pontos e conhecer as regras do jogo. E tratar de parcerias com os países que interessam no curto, médio e longo prazo ao Brasil, concluiu a ex-ministra, em sua participação.

Já o diplomata André Aranha Correa do Lago, conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e atual secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores (MRE), também integrou os debates da reunião conjunta. Ele tratou da estrutura e funcionamento da Conferência do Clima.

“O Brasil precisa ter uma agenda própria nesta COP 30 e usá-la a seu favor. O Brasil se tornou importante demais para ser ator secundário”, avaliou o diplomata. Ele acrescentou que a economia internacional caminha para um cenário em que o Brasil pode ter vantagens competitivas e é preciso aproveitá-las, bem como as várias dimensões da COP, pois são vários eventos ao mesmo tempo, como a sua parte formal e agenda de ação, que envolve empresários, e é preciso defender os interesses brasileiros. E, ainda, as discussões ambientais científicas e o encontro de chefes de Estado.

Lago explicou que as negociações não são por tema, mas por grupos e países, por mais que se fale de florestas e combustíveis. “Nossa vantagem é que não somos uma país temático, mas sim multitemático”, destacou.

“Nessa economia do futuro, o Brasil deve ter um peso maior. Há vários temas que estão sendo abordados, mas não discutidos em profundidade. É preciso transformar as fragilidades em vantagens. A posição defensiva é nossa grande ameaça”, afirmou Lago. Ele acrescentou que faltam dados em relação à agricultura brasileira, mas ainda há tempo este ano para desenvolver esses debates e planejar. Ter uma posição forte para termos os melhores resultados”, concluiu.