O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), entidade que representa 85% das empresas que atuam em mineração no país, apresentou nesta terça-feira (28/10), durante a Exposibram 2025 em Salvador (BA), as metas do setor para a construção de um ambiente favorável aos negócios em bases sustentáveis. O conjunto de cinco diretrizes será atestado como compromisso durante a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada de 10 a 21 de novembro de 2025, em Belém (PA).
“Nosso papel na COP30 é destacar as iniciativas e práticas que estamos implementando para reduzir a pegada ambiental da mineração e promover a responsabilidade social corporativa”, consta no documento do Ibram. “Para cada porção de terra que o setor de mineração explora, ele cuida, preserva, dez. Esse é o perfil. Temos compromissos que passam pelo uso da água, compromissos com as comunidades e aumento do uso de energia limpa”, disse Raul Jungmann, presidente do Ibram.
Ele ressalta que as ações visam fortalecer o posicionamento da mineração brasileira como um setor fundamental para o sucesso da transição energética global e prever ações para adaptar o setor às consequências das mudanças do clima.
Compromisso 1: Energia
Ampliação em 15% na participação de fontes renováveis na matriz do setor mineral até 2030, contribuindo para uma mineração de baixo carbono. “A Vale, segundo seu presidente, consome quase 1 bilhão de litros de diesel. E ela está, aqui conosco, assumindo o compromisso de operar uma redução de 15% neste volume. Haverá substituição com fontes renováveis”, disse Jungmann. A empresa estuda usar etanol em caminhões e até navios.
O setor como um todo tem feito esforços para ampliação em 15% na participação de fontes renováveis em sua matriz até 2030, contribuindo para uma mineração de baixo carbono.
Compromisso 2: Natureza Positiva
“A meta que nós chamamos de Natureza Positiva é exatamente a questão da biodiversidade. O Brasil tem na Amazônia, particularmente, uma das maiores biodiversidades que temos no planeta. E é absolutamente fundamental que essa biodiversidade seja preservada. A área explorada tem que ser conciliada com a área protegida”, disse o presidente do Ibram. A meta visa à ampliação em 10% do ganho líquido em biodiversidade, a partir do aumento positivo entre áreas protegidas e áreas impactadas pelas operações minerárias, até 2030.
Áreas protegidas em 2023 somavam 1.092,0 mil hectares, enquanto a área impactada correspondia a 112,3 mil ha, resultando em uma razão de 10,28. Para 2030, o compromisso é elevar essa razão para 11,8.
Para isso, o setor planeja a gestão sustentável de florestas, oceanos e biodiversidade; investimentos para parar e reverter o desmatamento e a degradação florestal; e esforços para conservar, proteger e restaurar a natureza e ecossistemas com soluções para o clima, biodiversidade e desertificação. Além de esforços para a preservação e restauração de oceanos e ecossistemas costeiros.
“A supressão de cada hectare pelo setor mineral vem acompanhada da restauração de pelo menos 10 hectares”, completa Ana Sanches, presidente do Conselho Diretor do Ibram e da Anglo American.
Compromisso 3: Água
O setor quer redução de 10% do uso específico de água nova na mineração até 2030, para a promoção de eficiência hídrica e redução da pressão sobre os recursos hídricos. “O que queremos com isso? Queremos o aumento da reciclagem, ou seja, a capacidade do setor de reciclar. Há novas tecnologias sendo aplicadas no tratamento e reuso. A missão é ampliar”, explica Raul Jungmann.
“Não existe vida sem água. Então, a responsabilidade que o setor precisa ter é cada vez maior com a eficiência hídrica”, disse Ana Sanches. Ela explica: a forma de medir esse compromisso é com relação ao uso específico, não se comparando ao uso humano, já que cada mina tem sua necessidade. A intenção é reduzir o uso de água nova captada, o que exige investimento em reuso.
Compromisso 4: Adaptação
As mineradoras, via Ibram, prometem fomento à elaboração de planos municipais de adaptação às mudanças do clima em territórios (cidades) com mineração até 2030.
O Objetivo Nacional é capacitar e incentivar entes subnacionais a adotarem um desenvolvimento urbano integrado e sustentável, bem como estratégias de enfrentamento à mudança do clima alinhadas às diretrizes nacionais.
Os municípios, cerca de 30, serão definidos a partir da combinação de pontos de atenção do Índice de Progresso Social (IPS) para o setor mineral, ano-base 2024. A discussão do setor é fazer um projeto-piloto nesses municípios.
“Faremos um levantamento de indicadores – são 12 indicadores sociais e econômicos e 36 subindicadores – em 290 municípios onde existe mineração, onde levantamos indicadores a respeito de transporte, saúde, educação, segurança, clima, uso de água, tudo. A gente quer entender como está a situação de cada um desses municípios, com os seus sistemas de drenagem, seus sistemas de infraestrutura de vias públicas, os efeitos das chuvas que destroem as vias públicas e impedem o acesso das suas comunidades, aos seus bairros. Com tudo isso, o setor quer garantir infraestrutura, dignidade e qualidade de vida perante as mudanças climáticas”, diz o presidente do Ibram.
Compromisso 5: Descarbonização
Segundo o Ibram, a descarbonização do setor tem três ângulos:
- Redução das emissões diretas da mineração;
- Contribuição para redução das emissões ao longo da cadeia global do minério de ferro;
- Viabilização de soluções para a transição energética global por meio dos Minerais Críticos e Estratégicos (MCEs), que podem ser explorados no Brasil.
Nesse sentido, as mineradoras propõem algumas ações coordenadas:
- Substituição de combustíveis fósseis em frotas e equipamentos;
- Eletrificação como vetores energéticos;
Ganhos de eficiência e inovação tecnológica em minas e plantas industriais; - Uso de tecnologias que convertem eletricidade, geralmente de fontes renováveis (como solar e eólica), em diferentes vetores energéticos e combustíveis, como o hidrogênio;
- Expansão da energia renovável via geração local e contratos de longo prazo;
- Uso sustentável da terra e reflorestamento para neutralização de emissões residuais.
“É uma meta extremamente ambiciosa, é uma meta que realmente vai significar mudanças em termos de tecnologia, em termos de processo, em termos de segurança, em termos, enfim, de uma infinidade de outras coisas. Mas são compromissos do setor. Como eu tenho falado muito, é caminho sem volta. O nosso papel é a nossa responsabilidade”, conclui Jungmann.


