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Os riscos que ameaçam os agricultores

Reunião na Fiesp tratou de catástrofes climáticas, como a do Rio Grande do Sul, e outras situações de impacto negativo para a agricultura

Alex de Souza, Agência Indusnet Fiesp

Entender os riscos a que os agricultores estão sujeitos é essencial para se trabalhar de modo preventivo. Este foi o tema central da reunião do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp, presidido por Jacyr Costa, que recebeu representantes do setor público e privado para debater este assunto na manhã de segunda-feira (6/5).

Com a tragédia das inundações que acometem o Rio Grande do Sul, as catástrofes climáticas, naturalmente, foram um dos aspectos abordados. Na avaliação do coordenador técnico do ramo Agro da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), João Pietro, elas sempre estiveram presentes na cadeia de produção, mas têm sido mais frequentes nos últimos anos. “Temos observado e enfrentado diferentes efeitos e adversidades, tais como enchentes, estiagem ou geada. Isso impacta as diferentes safras e coloca em xeque a nossa capacidade de resiliência”, disse.

Alguns dos impactos mencionados por ele são o custo de crédito e o custo de seguro, que levam à perda de produtividade e qualidade no campo. “Com o aumento da percepção de risco, mais de R$ 9 bilhões foram pagos em Proagro somente 2023. Temos um momento de redução de margem e o desafio da queda de preço das principais commodities, com exceção de algumas”, explicou o representante da OCB, que reúne 1.185 cooperativas e mais de um milhão de cooperados.

Pietro defende a integração de diferentes atores para criar instrumentos e soluções para mitigar, minimamente, os impactos diretos na cadeia de produção agropecuária nacional.

“Existem algumas vertentes voltadas à discussão para renegociação ou alongamento de dívidas e fortalecimento do Plano Safra. Mas também precisamos discutir medidas de financiamento com setor financeiro, propostas para fortalecer os mecanismos de gestão de riscos, aumentar a interlocução junto ao Executivo e Legislativo, garantia orçamentária, parcerias para fomento e disseminação das melhores práticas agropecuárias”, defendeu.

O mercado de seguros no segmento

“Embora eventos extremos como o que atingiu o Rio Grande do Sul sejam previstos pelas companhias de seguro, é necessário contratar algum tipo de proteção”, avaliou o conselheiro do Cosag, João Pinto Rabelo Júnior, diretor do IRB(Re). “A contratação do seguro garante a transferência de riscos e maior previsibilidade orçamentária”, disse referindo-se ao seguro rural, mercado que movimenta R$ 6 bilhões por ano.

Rabelo afirmou ser necessário entender o risco climático e calcular formas de mitigá-los. Para isso, o IRB(Re) está criando uma área específica de desenvolvimento e pesquisa que terá um Centro de Pesquisas em risco climático, que contará com a participação de outros patrocinadores.

O mercado de seguro agrícola é mais amplo, porque vai além do seguro rural, e movimenta R$ 14 bilhões anuais. Para efeito de comparação, o mercado total de seguros é de R$ 388 bilhões. “Desse montante, R$ 221 bilhões foram devolvidos à sociedade por meio de indenizações o que mostra a importância desse mercado como um todo”, lembrou Ricardo Sassi, do Cosag.

Porém, ele reconhece que ainda há muito a avançar, porque o seguro agrícola ainda está em estágio de amadurecimento. “Menos de 10% da área plantada é segurada e existem riscos geograficamente concentrados. É um mercado de baixa penetração e os produtos de seguro ofertados aos produtores não atendem adequadamente às suas necessidades”, explicou Sassi. Falta de tecnologia em todos os processos e de conhecimento do produto e baixa remuneração comercial estão entre outros problemas apontados por ele.

A fim de contribuir com esse mercado, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) está trabalhando para criar um birô de informações, informou o diretor do Departamento de Gestão de Riscos do ministério, Jonatas Pulquério. “O mercado precisa de informação”.

O risco climático foi citado por ele como apenas um entre os diversos riscos que ameaçam o agricultor, além da falta de informações, da questão geopolítica, que pode afetar as cadeias de suprimentos globais, variações do mercado e ocupações. Ele anunciou a intenção de modernizar os instrumentos de investigação de risco agropecuário por meio do Plano Nacional de Gestão de Risco Agropecuário. “Queremos identificar por meio de estudos e pesquisas os riscos que permeiam a atividade agropecuária no Brasil, saber as possíveis ferramentas e políticas capazes de mitigar ou adaptar os riscos”, disse Pulquério.

Ele anunciou a criação de uma câmara temática de gestão de risco agropecuário, que deverá estabelecer o ambiente propício diálogo e cooperação entre representantes do setor agropecuário, seguradoras, órgãos reguladores e especialistas em seguros. “Não podemos falar sobre risco análise de risco e política pública sem ouvir os parceiros, os interlocutores. O plano será construído ouvindo toda essa base”, concluiu.